No dois primeiros artigos sobre cultura de paz ( Caminhos para Sensibilidade e Conflitos ao redor do mundo – Qual a sua resposta?) eu abordei a responsabilidade social individual em benefício da paz já que o fenômeno do conflito é relacional.
O comportamento da humanidade na história nem sempre foi marcado pela cultura de guerra. Esta tônica violenta das últimas eras desde a antiguidade tem gerado competição desmedida e destruição de vidas e recursos naturais.
Os estudos arqueológicos mostraram que havia períodos de equilíbrio, no período antigo e pré-histórico, sem hierarquização de uns sobre os outros. Neste cenário, culturas se desenharam marcadas pela cooperação genuína da partilha do mesmo ambiente, espelhadas na condição da natureza.
A ancestralidade dos povos antigos aponta para momentos de harmonia entre o matriarcado e patriarcado que conviveram pacificamente. Em que momento ocorreu essa transformação que trouxe superioridade e diferenciação entre as comunidades humanas? É possível nos espelharmos nos ancestrais e na natureza até alcançarmos a condição de dignidade para todos.
Influências biológicas no humano
Conviver é um determinante neste planeta, conviver consigo mesmo e com o outro. A parte interfere no todo e esta é a magia da interdependência em que todos que dividem o planeta interagem, criam, transformam e se reproduzem. Foi assim a base biológica que nos constituiu há milhares de anos, muito antes da espécie humana surgir, a evolução foi possível graças à rede de interações e adaptações.
A palavra de ordem sempre foi a interdependência, calcada na cooperação entre os seres vivos e trocas de DNAs, que nos constituiu um dia como espécie. Sistemicamente havia o fenômeno da natureza e o pulsar como base para compreensão da ordem que gerou a beleza da vida.
A questão é: se a base biológica da ética se baseia na relação autopoiética (de produção e reprodução) como usar esse conhecimento para restaurar o ecossistema? O conceito é que o corpo também é um ecossistema que ajuda a manter nossa saúde, que são fatores e co-fatores interligados que juntos geram o equilíbrio. Tudo isso somado à necessidade de vivermos em um planeta mais sustentável e, assim, compreendermos a continuidade da força inexorável que é a vida.
Bem-estar comum
Mesmo vivendo no mesmo ambiente entre trilhões de seres vivos ainda não nos conscientizamos bem que também somos parte da natureza. Um caminho para não violência inicia-se internamente ao enxergarmos que a natureza humana é igual a natureza e não tratar separadamente.
Se o respeito ao meio ambiente fosse contínuo partindo de dentro para fora, no cotidiano, na família, nas relações de trabalho, no bairro, na cidade, haveria mais equilíbrio. Muitas pessoas sofreram e ainda sofrem devido o preconceito e intolerância à diversidade de ideias, de gênero, raça ou credo. Essas questões evocam um sistema de dominação em que uns querem dominar os outros sem o direito de pertencimento que seria o natural.
Esse partilhar de espaço e temporalidade e direito de ir e vir deveriam ser igualmente divididos entre todos. Porém a falta dessa consciência mantém a crença de dominação em que imperam o egoísmo, a ganância e o desprezo carregados de injustiça social.
Essa constatação de que o humano ainda está em fase de construção e que não é um projeto acabado tem sido discutida por cientistas e humanistas de forma transdisciplinar. E a consciência ética sobre a biologia do conhecer, que nos constituiu como espécie e recriou o mundo, é uma quebra de paradigma para que as relações humanas continuem mantidas.
Sites e livros
- www.palasathena.org.br
- Ian Pearson http://www.youtube.com/watch?v=nNbxlxU64uA&sns=em
- A árvore do conhecimento – Humberto Maturana e Francisco Varella
- A nossa humanidade – Francis Woff
- O princípio da responsabilidade – Hans Jonas
- O mistério da consciência – Antonio Damásio

Santista, apaixonada pela natureza, fiz Jornalismo e curso de Informação e Comunicação na Universidade Paris VIII, em São Paulo,18 anos no Corporativo, Pós-graduação em Administração de Marketing, conduzi lançamento e ativação de marcas (Ogilvy, Accor, Phytoervas, Unibanco Instituto de Ensino Sirio Libanes e Santander). Empreendedora desde 2012, atuo para o Desenvolvimento humano e Organizacional, consultivamente e em design e facilitação em Diálogo, Transformação de conflitos, Linguagem e Expressão. Entre 2015/2016 me formei pela Palas Athena em Cultura de Paz e Dinâmicas de Convivência”, sou co-fundadora de A casa do sim.
Parabéns Márcia artigo bem esclarecedor das bases de um outro pensamento para compreender a humanidade.